O parente resgatador
agosto 9, 2023Hissopo
agosto 14, 2023Seol
Nota do Editor: Este é o quarto de 19 capítulos da série da revista Tabletalk: Palavras e frases bíblicas mal compreendidas.
O que é este lugar chamado Seol (na versão ARA: sepultura/morte) para o santo do Antigo Testamento? Na maioria das referências do Antigo Testamento, “Seol” é usado para descrever o destino humano. Uma aura pálida paira sobre o conceito. O Seol é constantemente descrito pelos justos como um lugar para o qual não se deseja ir: um “destino indesejado”, como no Salmo 30:3. Frequentemente, quando os salmistas se referem ao Seol, o que mais temiam não era a morte em si, nem que pudessem se perder na morte. Em vez disso, temiam perder o contato com Deus. Por exemplo, o Salmo 6:5 afirma: “Pois, na morte, não há recordação de ti; no sepulcro [Sheol], quem te dará louvor?”. A quantidade de palavras para este lugar dos mortos é impressionante nas Escrituras: “abismo”, “sepultura”, “terra do esquecimento”.
O Seol era sempre considerado um lugar de punição divina, um destino muitas vezes desejado para os ímpios. O salmista costuma falar de maneira metafórica sobre o Seol. Às vezes, “Seol” é usado para descrever metaforicamente a força da aflição por alguém que não está de modo literal no Seol. Por exemplo, no Salmo 88, o salmista não pode literalmente residir no Seol, porque é evidente que ele ainda está vivo; portanto, está usando linguagem metafórica para descrever sua existência como se já estivesse no reino daqueles que habitam no Seol. Às vezes, “Seol” é usado para descrever a dor de estar no exílio. Às vezes, a “escuridão” é usada como uma metáfora para um estado semelhante ao Seol, como no Salmo 143:3: “Pois o inimigo me tem perseguido a alma; tem arrojado por terra a minha vida; tem-me feito habitar na escuridão, como aqueles que morreram há muito”.
Quando o santo do Antigo Testamento invocava o “Seol”, ou sinônimos dele, o que mais temia era a ausência da bênção de Deus, pois nunca se pode estar totalmente ausente de Deus. O Salmo 139:7-8 afirma que Deus, de acordo com Sua onipresença, também estava lá no Seol.
Em geral, o Salmo 16 é descrito como uma canção de certeza ou confiança. O Salmo 16 é, obviamente, citado em Atos 2:25-28, 31 e 13:35. Em particular, o Salmo 16:10 — “Pois não deixarás a minha alma na morte (Seol), nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.” — parece ser uma referência à imortalidade, à ressurreição e à vida após a morte. A mesma questão é levantada nos Salmos 17, 49 e 73. É comum encontrar na literatura acadêmica a alegação de que o Saltério não contém nenhuma argumentação importante sobre a concepção hebraica da vida após a morte. A maioria dos comentaristas preferem ver as referências no final do Salmo 16 como a oração do salmista para que Deus o proteja de alguma morte prematura. Outra teoria é que a “vida” mencionada no versículo 11 é a “vida eterna” e que, portanto, esta é uma declaração sobre a crença do poeta na imortalidade, daí a aplicação de Lucas à ressurreição. Como Geerhardus Vos reconheceu, essas palavras foram corretamente aplicadas à ressurreição de Jesus por Lucas (veja At 2:25-28).
Com a morte, ressurreição e ascensão de nosso Senhor Jesus Cristo, a compreensão da morte e da vida após a morte mudou radicalmente para os santos. Aqui é importante entender a sétima palavra de nosso Senhor na cruz: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!” (Lc 23:46). Essa palavra final foi uma declaração de consolo e confiança filial. Foi um ato de oferecer Seu espírito humano a Seu Pai celestial (entretanto, Sua natureza divina permaneceu unida à Sua natureza humana, mesmo enquanto Ele jazia na sepultura. Veja a Confissão Belga, pergunta 19) Ao fazer essa declaração final na cruz, Cristo nos dá uma afirmação da vida ininterrupta.
Estêvão, o primeiro mártir da igreja, entendeu o significado disso, pois mesmo enquanto estava sendo apedrejado, clamou a Deus para ser seu guardião e declarou: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7:59). O apóstolo Paulo também compreendeu a realidade do Senhor ressurreto e da vida após a morte, pois ao perceber que Oséias 13:14 havia experimentado seu verdadeiro cumprimento, pôde declarar: “Onde está, ó morte, a tua vitória?” (1 Co 15:55).
Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.