
TULIP e a teologia reformada: uma introdução
maio 21, 2025
TULIP e a teologia reformada: eleição incondicional
maio 26, 2025TULIP e a teologia reformada: depravação total

Nota do editor: Este artigo faz parte da coleção TULIP e a teologia reformada.
A doutrina da depravação total reflete o ponto de vista reformado do pecado original. Esse termo — pecado original — é muitas vez mal compreendido no cenário popular. Algumas pessoas presumem que o termo pecado original deve se referir ao primeiro pecado: a transgressão original que todos nós imitamos de muitas maneiras diferentes em nossas vidas, ou seja, o primeiro pecado de Adão e Eva. No entanto, esse não é o significado que a igreja historicamente atribuiu ao pecado original. Em vez disso, a doutrina do pecado original define as consequências para a raça humana por causa do primeiro pecado.
Praticamente todas as igrejas que historicamente têm um credo ou uma confissão concordam que algo muito sério aconteceu à raça humana como resultado do primeiro pecado: esse primeiro pecado resultou no pecado original. Ou seja, como consequência do pecado de Adão e Eva, toda a raça humana caiu, e nossa natureza como seres humanos, desde a queda, tem sido influenciada pelo poder do mal. Como Davi declarou no Antigo Testamento: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51:5). Ele não estava afirmando que era pecado sua mãe ter tido filhos; nem que ele havia feito algo mau ao nascer. Em vez disso, estava reconhecendo a condição humana caída: aquela condição que fazia parte da experiência de seus pais, uma condição que ele mesmo trouxe a este mundo. Portanto, o pecado original tem a ver com a natureza caída da humanidade. A ideia é que não somos pecadores, porque pecamos. Mas pecamos, pois somos pecadores.
Na tradição reformada, depravação total não significa depravação absoluta. Muitas vezes usamos o termo ‘total’ como sinônimo de absoluto ou completamente, então a noção de depravação total evoca a ideia de que todo ser humano é tão mau quanto poderia ser. Você pode pensar em um grande inimigo da história, como Adolf Hitler, e declarar que não havia absolutamente nenhuma virtude redentora naquele homem, mas suspeito que tivesse alguma afeição pela mãe dele. Por mais perverso que Hitler tenha sido, ainda podemos imaginar maneiras pelas quais ele poderia ter sido ainda mais perverso do que de fato foi. Então, a noção de ‘total’ na depravação total não indica que os seres humanos sejam tão maus quanto é possível ser. Significa que a queda foi tão grave que afetou a pessoa por completo. A queda que captura e domina nossa natureza humana afeta nossos corpos; é por isso que ficamos doentes e morremos. Afeta nossas mentes e nossos pensamentos; ainda temos a capacidade de pensar, porém a Bíblia ensina que a mente se obscureceu e enfraqueceu. A vontade do homem não está mais em seu estado original de poder moral. A vontade, segundo o Novo Testamento, agora permanece em escravidão. Estamos sob o domínio dos desejos e inclinações malignas de nossos corações. O corpo, a mente, a vontade, o espírito — na verdade, a pessoa inteira — foram infectados pelo poder do pecado.
Gosto de substituir o termo depravação total pela minha designação favorita, que é corrupção radical. Ironicamente, a palavra radical tem sua origem na palavra latina para “raiz”, que é radix, e pode ser traduzida como raiz ou núcleo. O termo ‘radical’ se refere a algo que vai até as raízes de um conceito ou objeto. Não é algo tangencial ou superficial. A visão reformada é que os efeitos da queda se estendem ou penetram na nossa essência. Até mesmo o termo em português ‘coração’ vem da palavra latina cor. Ou seja, nosso pecado é algo que vem do nosso coração. Em termos bíblicos, isso aponta para algo que emana do centro de quem somos.
Portanto, o que é necessário para que sejamos conformados à imagem de Cristo não são apenas alguns pequenos ajustes ou mudanças no comportamento, mas nada menos que uma renovação interior. Precisamos ser regenerados, ser transformados novamente, ser vivificados pelo poder do Espírito. A única maneira pela qual uma pessoa pode escapar dessa situação radical é através da transformação do núcleo, do coração, feita pelo Espírito Santo. Ainda assim, essa mudança não derrota o pecado de maneira instantânea. A eliminação completa do pecado aguarda nossa glorificação no céu.
Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.