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A humanidade de Jesus

Antes de sairmos das páginas do Novo Testamento, encontramos aqueles que negam que o Filho de Deus se encarnou. Ou seja, nas igrejas do primeiro século, as igrejas dos apóstolos, havia falsos mestres. E um dos falsos ensinamentos mais comuns que espalharam foi a negação de que o Filho de Deus havia assumido uma natureza humana. Mas por que esse problema? O que houve de tão ofensivo em Cristo se tornar homem?

Parte da resposta diz respeito à cultura do primeiro século, onde Platão governava o mundo das ideias. Uma de suas ideias dizia respeito à matéria. Para resumir, a matéria era ruim, segundo Platão. Era simplesmente impossível que algo bom — Deus — se tornasse ruim: se encarnasse. Então, esses falsos mestres propuseram que Cristo apenas “parecia” ser humano.

O que encontramos no Novo Testamento refuta de forma direta essa ideia. Vemos que Jesus ficou cansado, com fome e sede. Ele estava limitado em termos de espaço. Ele agonizou, até mesmo sofreu. Ele exibiu emoções humanas, intelecto e vontade. Ele morreu. Cristo foi — e é — verdadeiramente humano. Por que isso é importante?

A Declaração do Ministério Ligonier sobre Cristologia declara:

Tornou-se verdadeiro homem […]
e viveu entre nós.

Além disso, no artigo 7 dos Artigos de afirmações e negações, dizemos:

Afirmamos que, como verdadeiro homem, Cristo possuiu […] todas as limitações naturais e fraquezas comuns à natureza humana e que Ele foi feito como nós em todos os aspectos, exceto em relação ao pecado.

A frase “fraquezas comuns” provém da Confissão de Fé de Westminster. É uma frase bonita, embora aborde realidades difíceis. Podemos ver exemplos da empatia de Cristo com nossas fraquezas comuns nos evangelhos. Você já foi traído por um amigo próximo? Cristo foi. Você já passou pela experiência de perder um amigo próximo? Cristo sentiu. Você já sentiu uma dor intensa e insuportável? Cristo sentiu. Você já foi caluniado, ridicularizado e rejeitado? Cristo foi.

Talvez nenhum episódio ilustre melhor a experiência de Cristo com fraquezas comuns — ou não tão comuns — do que aquela noite agonizante no jardim do Getsêmani (Mt 26:36-46). Quando confessamos as palavras “tornou-se verdadeiro homem”, estamos reconhecendo que Cristo de fato foi — e continua sendo — um verdadeiro ser humano. Isso é reconfortante.

É claro que precisamos distinguir entre o estado de humilhação de Cristo e Seu atual estado de exaltação. Cristo se tornou o Deus-homem na encarnação. Os teólogos se referem à Sua vida na terra, desde a encarnação até a Sua morte e sepultamento, como o “estado de humilhação” (Fp 2:5-8). Durante esse tempo, Ele era o Deus-homem. Os teólogos chamam o tempo desde a ressurreição de Cristo, incluída Sua ascensão, estado celestial atual e futuro retorno, de Seu “estado de exaltação” (Fp 2:9-11). Neste tempo, Ele continua sendo o Deus-homem. Ao estar sentado em Seu trono à destra do Pai, Ele é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus. Quando falamos que Cristo suportou fraquezas comuns, devemos reconhecer a distinção entre Seu estado de humilhação e Seu estado de exaltação, porém em ambos Ele é o Deus-homem e em ambos Ele possui uma natureza verdadeiramente humana. Não era indiferente quando vivia entre nós e não é indiferente agora. Isso tem uma aplicação relevante para nós e para a maneira como vemos nosso Advogado e Intercessor.

A intenção de fazer essa distinção entre o estado de humilhação e o estado de exaltação foi esclarecer as críticas que recebemos sobre o tempo passado “possuiu” no artigo 7 das afirmações e negações. Em função das respostas que recebemos desta primeira postagem, há uma necessidade de clareza ainda maior e mais explícita em relação às “fraquezas comuns” e aos estados de Cristo. Cristo possuía “fraquezas comuns” no estado de humilhação, mas foram superadas e triunfadas na exaltação de Cristo. A intenção original de usar o tempo passado no artigo 7 era acentuar que Cristo era e continua sendo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Quando o Filho eterno de Deus se tornou homem na encarnação, Ele assumiu uma natureza humana a Si mesmo, de modo que as naturezas divina e humana estivessem naquele momento e para sempre unidas na única pessoa de Jesus Cristo.

Agradecemos àqueles que apresentaram esta crítica, pois nos ajuda a ter maior clareza sobre esses assuntos. Nossa intenção era que a declaração fosse um incentivo para um debate cristológico saudável e sólido. Estamos gratos que isso esteja acontecendo.

Passamos dos artigos de afirmações e negações para a declaração em si, no terceiro parágrafo ou estrofe da declaração, para examinar os fatos históricos da encarnação de Cristo. Aqui a declaração segue de perto os credos antigos. O Credo dos Apóstolos declara que Cristo “nasceu da Virgem Maria; padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado”. Porém acrescentamos a seguinte frase:

Nasceu da Virgem Maria
e viveu entre nós.

A expressão “e viveu entre nós” deve ser seguida de imediato por um selá, aquela misteriosa notação musical nos Salmos. A palavra “selá” nos orienta a fazer uma pausa, parar e considerar. Portanto, devemos parar e considerar o que significa que Cristo, quem é verdadeiramente humano, viveu entre nós. O autor de Hebreus fez exatamente isso. Veja Hebreus 2:14-18 e 4:14-16. Leia essas passagens e reflita.

O que descobrimos quando refletimos sobre esses versículos e a doutrina da verdadeira humanidade de Cristo é que o cristianismo é bastante superior a todas as outras religiões, filosofias e cosmovisões. Platão é intrigante. Seus diálogos são provocativos. No entanto, toda uma filosofia feita sobre as noções de que a matéria é ruim e que o mundo material só existe para ser abandonado não ajuda ninguém a viver. Não ajuda ninguém a encontrar sentido no trabalho ou na criação dos filhos. Não contribui para vivermos bem nossas vidas neste mundo ao refletirmos sobre a resposta definitiva de Platão

Investigue o islamismo e você encontrará um ser imprevisível, uma divindade arbitrária e inconstante. Segundo o islamismo, Jesus lhe falará sobre essa divindade, porém o Jesus do islamismo não é um Sumo Sacerdote bondoso que intercede por você.

Não se engane: quando confessamos a frase “verdadeiro Deus, Ele se tornou-se verdadeiro homem”, estamos expressando que Jesus, por ser o Deus-homem, é a nossa única esperança. Quando confessamos que Ele “viveu entre nós”, estamos confessando que Ele é nossa única esperança e conforto nesta vida e na futura.

O que é uma fonte de conforto e alegria para alguns é, para outros, um assunto que assusta e deve ser evitado a todo custo. O fato de que o Filho, que é verdadeiramente Deus, se tornou verdadeiramente homem é realmente assustador para algumas pessoas. C. S. Lewis explica melhor esse medo em seu livro Milagres:

Os homens relutam em passar da noção de uma divindade abstrata e negativa para o Deus vivo. Não fico surpreso… O Deus do panteísta não faz nada e não exige nada. Ele está lá se você desejar, como um livro na estante… Um “Deus impessoal”, muito bem. Um Deus subjetivo de beleza, verdade e bondade dentro de nossas cabeças, melhor ainda… Mas o próprio Deus, vivo, puxando a outra ponta da corda, talvez se aproximando a uma velocidade infinita, o caçador, o rei, o marido: isso é outra questão.

Deus não é apenas Aquele que puxa a outra ponta da corda, Ele é mais. A segunda estrofe da declaração afirma a Trindade: os membros co-iguais da Divindade são o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Todas as três pessoas da Divindade são uma em substância ou essência. Isso significa que Cristo é verdadeiramente Deus. Sabemos também que o Deus trino não despreza a matéria. Quando Deus criou o homem, Ele formou Adão “do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2:7). É um Deus assustadoramente próximo.

Na plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, que nasceu da Virgem Maria. Aquele bebê deitado na manjedoura era — e é — verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, duas naturezas em uma pessoa. Isso é assustadoramente próximo.

“Verdadeiro Deus, tornou-se verdadeiro homem.” Estas são apenas palavras curtas e bastante diretas. Também são palavras impressionantes. Palavras sóbrias. Palavras de conforto. Selá.

Leia, compartilhe e faça o download da declaração em vários idiomas em ChristologyStatement.com/pt ou clique nos links abaixo:

●      Prefácio

●      A declaração

●      Afirmações e negações

●      Ensaio explicativo

●      Downloads


Este artigo faz parte da coleção Declaração do Ministério Ligonier sobre Cristologia.

Publicado anteriormente em O Verbo se fez carne: Declaração do Ministério Ligonier sobre Cristologia, pelo Ministério Ligonier.

Este artigo foi publicado originalmente em Ligonier.org.

Stephen Nichols
Stephen Nichols
O Dr. Stephen J. Nichols (@DrSteveNichols) é presidente da Reformation Bible College, diretor acadêmico de Ligonier Ministries e professor da Fraternidade de Ensino de Ligonier Ministries. Ele é autor de vários livros, incluindo For Us and for Our Salvation e Tempo de Confiança.