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A doutrina da imputação

Você não adora quando coisas boas se combinam? Presunto e ovos. Batman e Robin. Macarrão com queijo. Que tal biscoitos de chocolate e o evangelho? Isso pode ser uma novidade para você.

Na década de 1990, um grupo de teólogos evangélicos e líderes da igreja conversou com um grupo de teólogos e líderes da Igreja católica romana e, juntos, produziram uma declaração intitulada Evangélicos e Católicos Juntos (ECT, em inglês). Após essa declaração, houve muito debate sobre a compreensão católica romana do evangelho e como ela se relaciona com a compreensão do evangelho historicamente afirmada pelos evangélicos, os herdeiros da Reforma Protestante. O assunto da justificação somente pela fé surgiu. Essa foi, é claro, uma das questões centrais da Reforma.

Vemos quão essencial a doutrina da justificação somente pela fé era nos princípios da Reforma de sola fide (somente fé), sola gratia (somente graça) e solus Christus (somente Cristo). Essas solas enfatizam que a salvação é somente pela graça, mediante a fé somente em Cristo. No entanto, devemos também observar que os reformadores enfatizaram uma palavra que eles consideraram essencial para a doutrina da justificação somente pela fé, que eles, por sua vez, entendiam como essencial para uma compreensão correta do evangelho. Essa palavra é “imputação”.

Durante algumas das conversas sobre o ECJ, as diferenças históricas entre evangélicos e católicos romanos sobre a imputação vieram à tona. O teólogo reformado Michael Horton comparou a imputação a gotas de chocolate na fabricação de biscoitos de chocolate. Se você usar todos os ingredientes para fazer biscoitos de chocolate, porém deixa de fora o ingrediente principal, que são as gotas de chocolate, você não terá biscoitos de chocolate quando tirar a assadeira do forno. Da mesma forma, você pode ter a maioria dos ingredientes principais do evangelho. Você pode ter a compreensão de que somos pecadores. Você pode ter uma compreensão de Deus como santo e justo. Você pode ter uma compreensão de Cristo e Sua obra na cruz. Mas se você deixar de fora a imputação, você não tem o evangelho. É por isso que os reformadores consideravam essa palavra muito essencial para uma proclamação biblicamente fiel do evangelho. O que significa a palavra “imputação”?

É um termo que se origina do latim. É um termo contábil, significa “atribuir ao saldo de alguém”. As despesas são debitadas e as receitas são creditadas. A antiga palavra da versão King James é “considerar”.

Em termos teológicos, falamos de uma dupla imputação que ocorre na justificação. Essa dupla imputação é ensinada em textos como 2 Coríntios 5:21, onde Paulo afirma claramente: “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus”. Aqui observamos que nosso pecado é imputado a Cristo. Nós somos a parte infratora. Ele é inocente. Ele cumpriu a lei de forma perfeita. Contudo, na cruz, Deus derramou Sua ira sobre Cristo. Por que? Porque nosso pecado foi imputado a Cristo. Cristo tomou sobre Si os nossos pecados. Nossa enorme dívida foi colocada em Sua conta. Cristo pagou o terrível castigo quando o cálice da ira de Deus foi derramado sobre Ele.

Há também uma segunda imputação. A justiça de Cristo é imputada a nós. Ele não apenas assume nossa dívida, mas também nos concede Seu crédito. Cristo pagou a penalidade que nunca poderíamos satisfazer, porém Ele também guardou a lei perfeitamente, algo que não podemos fazer. Em consequência, Deus nos imputa Sua justiça. Estamos diante de Deus cobertos com a justiça de Cristo. Podemos de fato afirmar que somos salvos pelas obras: não pelas nossas obras, porém pelas obras de Cristo, Sua perfeita obediência em nosso favor. Um teólogo comentou que duas das palavras mais bonitas da Bíblia são para nós. Jesus viveu, morreu —e ressuscitou— por nós. Toda a Sua obra foi feita em nosso favor.

Expressamos essa doutrina essencial da imputação em O Verbo se Fez Carne: A Declaração do Ministério Ligonier sobre Cristologia, pois a doutrina da dupla imputação tem sofrido ataques consideráveis por pessoas que professam ser evangélicas em nossos dias. Lembre-se, a doutrina da imputação é essencial para uma compreensão correta da justificação, e um entendimento exato sobre a justificação é fundamental para entender bem o evangelho. As doutrinas de imputação e justificação foram desafiadas em momentos como o ECJ. As doutrinas de imputação e justificação também foram desafiadas em movimentos contemporâneos, como a chamada Nova Perspectiva de Paulo. Para lidar com esse desvio teológico perigoso, queremos traçar um limite bem definido. Além disso, queremos lembrar aos crentes que o evangelho é uma boa notícia. Cristo levou nossos trapos imundos de pecado e nos deu Seu manto de justiça. Essa é uma bela representação. Expressamos a obra de Cristo ao consumar a nossa redenção na quarta estrofe da declaração:

Por nós,
Ele guardou a lei,
expiou o pecado
e satisfez a ira de Deus.
Ele levou nossos trapos imundos
e nos deu
seu manto de justiça.

A necessidade da doutrina da imputação é uma das principais razões pelas quais oferecemos esta declaração. No Ministério Ligonier, aproveitamos todas as oportunidades para mostrar às pessoas os grandes credos do passado. O primeiro livro do Dr. Sproul foi sobre o Credo dos Apóstolos, e uma nova edição deste livro foi lançada há pouco, intitulada Creio. Também reconhecemos a grande importância do Credo Niceno. De forma pessoal, sou muito abençoado nas ocasiões em que o Credo Niceno é recitado no culto público. Escrevi um livro sobre a Cristologia na igreja primitiva, intitulei For Us and for Our Salvation [Por nós e pela nossa salvação], em homenagem àquela grande frase do Credo Niceno. Acho que é uma das frases mais bonitas de toda a literatura teológica. Somos rápidos em apontar à igreja de hoje esses grandes textos e riquezas do nosso passado.

Também reconhecemos que o Credo dos Apóstolos e o Credo Niceno são recitados por evangélicos, protestantes tradicionais, católicos romanos e ortodoxos orientais. Em outras palavras, esses credos históricos são recitados por aqueles que afirmam a justificação somente pela fé, e são recitados por aqueles que pertencem a igrejas ou comunidades que negam a justificação somente pela fé. Embora, esses credos forneçam ensinamentos essenciais sobre a pessoa de Cristo, não falam com a precisão necessária sobre a obra de Cristo e nossa justificação diante de Deus nesta era. Porém estamos convencidos de que a justificação somente pela fé, incluída a doutrina da imputação, é essencial para o evangelho e, portanto, essencial para a identidade da igreja. Por isso, buscamos oferecer à igreja uma declaração inspirada no Credo dos Apóstolos, concisa e até mesmo recitável. Também procuramos reforçar a ênfase na obra de Cristo para nossa justificação diante de Deus, que foi apresentada de forma tão bela pelos reformadores. Quão agradável e revigorante é permanecer nas ricas tradições da igreja primitiva e dos reformadores.

A doutrina da pessoa e obra de Cristo é o evangelho. Portanto, a doutrina da imputação — a transferência de nossos pecados a Ele e de Sua obediência para nós — é essencial para este evangelho. Nos revela por que o evangelho é uma notícia tão boa: Cristo fez tudo. Ele atingiu o padrão de perfeição do nosso Criador por nós, então nunca precisamos temer a ira do Senhor se estivermos em Cristo somente pela fé. Essa doutrina da imputação pode nos levar somente a louvar a glória e a graça de Deus. Essa doutrina da imputação nos ensina que a salvação verdadeiramente vem dEle e apenas dEle.

Leia, compartilhe e faça o download da declaração em vários idiomas em ChristologyStatement.com/pt ou clique nos links abaixo:

●      Prefácio

●      A declaração

●      Afirmações e negações

●      Ensaio explicativo

●      Downloads


Este artigo faz parte da coleção Declaração do Ministério Ligonier sobre Cristologia.

Publicado anteriormente em O Verbo se fez carne: Declaração do Ministério Ligonier sobre Cristologia, pelo Ministério Ligonier.

Este artigo foi publicado originalmente em Ligonier.org.

Stephen Nichols
Stephen Nichols
O Dr. Stephen J. Nichols (@DrSteveNichols) é presidente da Reformation Bible College, diretor acadêmico de Ligonier Ministries e professor da Fraternidade de Ensino de Ligonier Ministries. Ele é autor de vários livros, incluindo For Us and for Our Salvation e Tempo de Confiança.