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TULIP e a teologia reformada: expiação limitada

Nota do editor: Este artigo faz parte da coleção TULIP e a teologia reformada.

Acredito que, de todos os cinco pontos do calvinismo, a expiação limitada é o mais controverso e o que talvez gere mais confusão e surpresa. Esta doutrina se preocupa principalmente com o propósito, plano ou desígnio original de Deus ao enviar Cristo ao mundo para morrer na cruz. Era intenção do Pai enviar Seu Filho para morrer na cruz para tornar a salvação possível para todos, porém com a possibilidade de que Sua morte não fosse eficaz para ninguém? Isto é, Deus apenas enviou Cristo à cruz para tornar a salvação possível, ou Deus, desde toda a eternidade, tinha um plano de salvação pelo qual, segundo as riquezas de Sua graça e Sua eleição eterna, Ele projetou a expiação para garantir a salvação de Seu povo? A expiação era limitada em seu projeto original?

Praticamente todas as igrejas que historicamente têm um credo ou uma confissão concordam que algo muito sério aconteceu à raça humana como resultado do primeiro pecado: esse primeiro pecado resultou no pecado original. Ou seja, como consequência do pecado de Adão e Eva, toda a raça humana caiu, e nossa natureza como seres humanos, desde a queda, tem sido influenciada pelo poder do mal. Como Davi declarou no Antigo Testamento: “Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51:5). Ele não estava afirmando que era pecado sua mãe ter tido filhos; nem que ele havia feito algo mau ao nascer. Em vez disso, estava reconhecendo a condição humana caída: aquela condição que fazia parte da experiência de seus pais, uma condição que ele mesmo trouxe a este mundo. Portanto, o pecado original tem a ver com a natureza caída da humanidade. A ideia é que não somos pecadores, porque pecamos. Mas pecamos, pois somos pecadores.

Prefiro não usar o termo expiação limitada, porque é enganoso. Prefiro falar de redenção definida ou expiação definida, que comunica que Deus Pai projetou a obra da redenção, em específico, com o objetivo de salvar aos eleitos, e que Cristo morreu por Suas ovelhas e deu Sua vida por aqueles que o Pai havia dado a Ele.

Um dos textos que muitas vezes ouvimos usado como objeção contra a ideia de uma expiação definida é 2 Pedro 3:8-9: 

Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia. Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.” 

O antecedente imediato da palavra ‘nenhum’ nesta passagem é a palavra ‘convosco’, e acho que está perfeitamente claro que Pedro está ensinando que Deus não deseja que nenhum de nós pereça, mas que todos cheguemos à salvação. Não fala de todos os seres humanos de forma genérica. ‘Convosco’ é uma referência ao povo crente a quem Pedro está falando. Não penso que queiramos acreditar em um Deus que envia Cristo para morrer na cruz e depois cruza os dedos, e espera que alguém se beneficie dessa morte expiatória. Nossa visão de Deus é diferente. Nossa visão é que a redenção de pecadores específicos foi um plano eterno de Deus, e esse plano e desígnio foram perfeitamente concebidos e executados para que a vontade de Deus de salvar Seu povo fosse cumprida pela obra expiatória de Cristo.

Isso não significa que haja um limite no valor ou no mérito da expiação de Jesus Cristo. É tradicional afirmar que a obra expiatória de Cristo é suficiente para todos. Ou seja, seu valor meritório é suficiente para cobrir os pecados de todas as pessoas, e certamente qualquer um que deposita sua confiança em Jesus Cristo receberá a medida completa dos benefícios dessa expiação. Também é importante entender que o evangelho deve ser pregado de forma universal. Este é outro ponto controverso, porque, por um lado, o evangelho é oferecido universalmente a todos que estão ao alcance da sua pregação, porém não é oferecido universalmente no sentido de que é oferecido a qualquer pessoa sem nenhuma condição. É oferecido a qualquer pessoa que acredite. É oferecido a qualquer pessoa que se arrependa. Sem dúvida, o mérito da expiação de Cristo é dado a todos os que creem e a todos os que se arrependem de seus pecados.


Artigo publicado originalmente em Ligonier.org.

R.C. Sproul
R.C. Sproul
O Dr. R.C. Sproul foi fundador do Ministério Ligonier, primeiro pastor de pregação e ensino da Saint Andrew's Chapel em Sanford, Flórida, e primeiro presidente da Reformation Bible College. Seu programa de rádio, Renewing Your Mind, ainda se transmite diariamente em centenas de estações de rádio ao redor do mundo e também pode ser ouvido online. Ele escreveu mais de cem livros, entre eles A Santidade de Deus, Eleitos de Deus, Somos todos teólogos e Surpreendido pelo sofrimento. Ele foi reconhecido em todo o mundo por sua defesa clara e convincente da inerrância das Escrituras e por declarar a necessidade que o povo de Deus tem em permanecer com convicção em Sua Palavra.