A Palavra de Deus como meio de graça - Ministério Ligonier
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A Palavra de Deus como meio de graça

Às vezes ouvimos sobre atletas, artistas ou autores talentosos que são considerados subestimados. Apesar de suas habilidades, seu trabalho é negligenciado e a eles não é dado o que lhes é devido. A popularidade e o sucesso de pessoas menos talentosas nos confundem e nos perguntamos por que nossa cultura é tão fixada em superficialidade e celebridade vazia. Deveríamos, porém, considerar que um padrão muito mais irracional tem se desenvolvido neste mundo: a própria Palavra de Deus tornou-se subestimada. Como cristãos, temos de permanecer firmes em valorizar a Palavra de Deus, a qual Ele usa como meio primário para a criação e edificação da Sua Igreja.

Precisamos ser lembrados de que a Palavra de Deus é poderosa. Foi a Palavra de Deus que foi instrumental em trazer toda a criação à existência (Sl. 33:6; Jo. 1:3). Neste exato momento, é o poder da Palavra de Deus que sustenta todas as coisas (Hb. 1:3). Enquanto os maiores dos homens e suas melhores obras se esvaem e desaparecem da terra, a Palavra do nosso Deus permanece para sempre (Is. 40:8). Enquanto nos esforçamos para ter um efeito sobre corações e mentes, “a Palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos do coração” (Hb. 4:12). A Palavra de Deus é instrumental em transformar os crentes, pois nós fomos “regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e permanece” (1Pe. 1:23).

A Palavra de Deus deve ter o primeiro lugar na vida da Igreja. Ela nunca deve ser negligenciada.

Também precisamos lembrar que a viva Palavra tem grande potencial de crescer e se espalhar. No livro de Atos, lemos o fascinante relato do crescimento da Palavra. Os apóstolos tinham um foco unânime na oração e na ministração da Palavra; eles entendiam que ela era o centro do ministério deles (At. 6:1-4). Como consequência, há cenas gloriosas de crescimento da igreja em Atos, com milhares sendo acrescentados à ela. Mas há indiscutivelmente uma ênfase mais forte, em todo o livro de Atos, na Palavra mesma do Senhor se espalhando, crescendo, multiplicando e prevalecendo (At. 6:7; 12:24; 13:49; 19:20). Se você voltar atrás e examinar o livro de Atos, verá que é tanto uma narrativa do crescimento da Palavra quanto do crescimento da Igreja. Em vez de estar concentrados primeiro nos efeitos da Palavra quando a Igreja cresce, precisamos ter uma apreciação saudável pela real presença e crescimento da própria Palavra.

Enquanto revisamos como as Escrituras atestam essas verdades, devemos confessar que a Palavra de Deus deve ter o primeiro lugar na vida da Igreja. Ela nunca deve ser negligenciada. O Breve Catecismo de Westminster, pergunta 89 ensina:

“O Espírito de Deus torna a leitura e especialmente a pregação da Palavra, meios eficazes para convencer e converter os pecadores, para os edificar em santidade e conforto, por meio da fé para a salvação.”

Quando o Breve Catecismo fala da leitura e da pregação da Palavra de Deus como “meio”, está falando da Palavra como um instrumento ou uma ferramenta. Isso é, num sentido, algo como usar determinado currículo como meio de mudar as mentes dos alunos ou um certo processo para moldar um pedaço de madeira. A realidade é que mesmo quando a Bíblia é impressa por impressoras humanas e pregada por pregadores humanos, é o Senhor quem está usando a Palavra como uma ferramenta para trabalhar em nós. O apóstolo Paulo ensinou aos tessalonicenses que “tendo vós recebido a Palavra que de nós ouvistes, que é de Deus, acolhestes não como palavra de homens, e sim como, em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes” (1Ts 2:13).

Quando se trata da Palavra de Deus, a responsabilidade primária da Igreja tem sido garantir que a Palavra seja pregada cuidadosa, substancial e verdadeiramente e confiar que o Senhor a usará. O próprio Filho de Deus veio como pregador do evangelho (Lc. 4:18). Os apóstolos foram enviados primariamente para pregar a Palavra. Homens como Timóteo e Tito foram chamados para focar na pregação e no ensino com autoridade (1Tm. 4:13–14; Tt. 2:13). Estaríamos perdidos sem pregadores que são enviados para levar as boas novas, uma vez que “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm. 10:14–17). Em Tito 1:3, Paulo ensina que Deus “manifestou a sua Palavra mediante a pregação”. Isso significa que Deus “revela” ou “comunica” Sua Palavra através da pregação. O que era um mistério para o homem natural é revelado.

Quando juntamos esses conceitos, temos de aceitar que não é ordinário ser capaz de entender a realidade do pecado, vir à fé em Cristo ou compreender a largura e a profundidade das Escrituras à parte da pregação. Assim como pais diligentes primariamente formam e moldam o caráter de um filho através de suas palavras, o Senhor ordinariamente reúne e molda Seus filhos por meio da pregação da Sua Palavra.

Uma das grandes bênçãos de estar sob pregação fiel é que ela com frequência nos expõe a verdades inesperadas, correções e encorajamento. Deixados por nossa própria conta e nossas próprias ideias, tendemos a acabar vivendo ou aprendendo de acordo com nossas próprias preferências. Em alguns casos, isso pode resultar em partes selecionadas das Escrituras sendo abusadas. Estar sob pregação expositiva regular, a qual cobre a amplitude das Escrituras ao longo do tempo e traz para nós coisas velhas e novas, dará ao crente uma dieta espiritual saudável. Ter um pregador que conhece as necessidades e preocupações da congregação resultará em orientação que pode ser desafiadora, mas finalmente restaurará nossas almas e nos conduzirá em “veredas da justiça” (Sl. 23). Quinze vezes o Novo Testamento nos diz: “Aquele que tem ouvidos, ouça.”

O próprio Filho de Deus veio como um pregador do evangelho (Lc. 4:18). Seus apóstolos foram primariamente enviados para pregar a Palavra.

As Escrituras também nos apontam para a bênção do uso pessoal da Palavra de Deus como meio de graça. A necessidade da pregação não quer dizer que os crentes também não se beneficiem de estudar a Palavra por conta própria. O salmista acordava cedo para orar e ler a Palavra (Sl. 119:147-148). Os bereanos “imparciais” examinavam as Escrituras diariamente (At. 17:11). Leitura cuidadosa e diligente irá equipá‐lo para ouvir com discernimento a pregação. Uma dieta regular e consistente de leitura pessoal das Escrituras tornará você completo e irá equipá‐lo “para toda boa obra” (2Tm 3:17). Ela também o corrigirá e reprovará continuamente (v. 16), o que pode ser difícil, mas é necessário. Ela irá apontar para você sua frequente necessidade de Cristo, o tornará “sábio para a salvação” e lhe dará fundamento para a doutrina e o viver cristão (vv. 15–16).

Quando você lê a Bíblia ou ouve uma pregação fiel, há mais coisas acontecendo do que mera comunicação de ideias. A Palavra é mais do que tinta no papel e a pregação é mais do que uma fala. A Palavra é viva, pois o Senhor está obrando eficazmente através dela pelo Seu Espírito Santo. Há muitas figuras disso nas Escrituras: o Senhor através de Sua Palavra está semeando sementes imperecíveis (1Pe. 1:23), trazendo arrependimento e fé (Rm. 10), alimentando nossas almas com o pão da vida (Mt. 4:4; Jo. 6:35), criando uma fonte de águas vivas em nossos corações (Jo. 7:38) e lavando Sua Igreja (Ef. 5:26). Ter a Palavra em nós é estar em união com Cristo e ser conformado com a Sua vontade, para que aprendamos a desejar o que é piedoso e santo (Jo. 15:7). Isso significa que a Palavra é uma dádiva incomparavelmente preciosa e poderosa de Deus para nós, pois Ele obra através dela. Na Palavra encontramos Cristo e, encontrando Cristo, temos comunhão com Ele.

Finalmente, há para os cristãos uma grande garantia no fato de que a Palavra de Deus não muda. Vivemos num mundo em que a mudança em si mesma é vista como virtuosa, incluindo muitas mudanças imprudentes na moral, na ética e nos estilos de vida. Tendências vêm e vão. Mas podemos ser gratos que, como povo do Livro, confessamos a mesma Palavra que a Igreja de todas as épocas. A Palavra de Deus não perdeu sua significância ou seu poder como meio de graça. Ela continua a crescer e se espalhar por muitas partes da terra. “Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente” (Is. 40:8).

Este artigo foi publicado originalmente na Tabletalk Magazine.

Robert VanDoodewaard
Robert VanDoodewaard
O Rev. Robert VanDoodewaard é pastor da Hope Reformed Church em Powassan, Ontário.