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março 21, 2025Os testes de Israel no deserto

Nota do editor: Este é o quinto de 18 capítulos da série da revista Tabletalk: Provas, tentações e o teste da nossa fé.
Quando os israelitas entraram no deserto pela primeira vez, estavam em um estado de euforia emocional. Depois de anos de opressão no Egito, meses de pragas e dias de viagem que terminaram com a milagrosa abertura do Mar Vermelho diante deles, atravessaram as águas sem se molhar (Êx 14). Atrás deles, testemunharam os carros de guerra egípcios sendo levados, o melhor de seu exército se afogou. Suas dificuldades sem dúvida agora tinham terminado. Mais algumas semanas de viagem e entrariam na terra prometida, onde o Senhor de forma rápida se livraria dos cananeus, o que permitiria que vivessem felizes para sempre. Enquanto Israel celebrava na costa oriental, parecia que tudo estava indo bem (Êx 15:1-21). O que poderia dar errado se Deus estava com eles?
Em certo sentido, tinham muita razão. O Senhor poderia com facilidade ter tornado a jornada deles tranquila, ao prover milagrosamente tudo o que precisavam ao longo do caminho e espalhar terror nos corações de seus adversários. Não é como se Ele não tivesse poder para prover água de uma rocha e comida do céu e desanimar seus inimigos. Ele podia fazer tudo isso sem suar a camisa (ver Êx 15-17; Nm 11; 20; Js 2). Porém os israelitas não estavam há mais de três dias em sua jornada pelo deserto quando surgiram problemas: não havia nada para beber. Pior, quando finalmente encontraram água, era intragável (Êx 15:23). Chamaram aquele lugar de “Mara” (amargo) por causa do gosto da água. “Por que o Senhor faria isso conosco?” murmuraram (ver v. 24).
A resposta é muito simples: Israel aprenderia lições sobre si mesmo e sobre o Senhor durante o tempo que passou no deserto, lições que não teriam aprendido sem aquelas experiências dolorosas. Se o Senhor tivesse preparado o caminho deles com tudo o que era necessário, nunca teriam aprendido quão pecaminosos eram seus corações e não teriam aprendido quão misericordioso e bondoso é o Senhor. Teria havido muito menos pecado, mas Israel não conheceria a si mesmo ou a seu Deus tão bem quanto eles.
O teste no deserto deu a Israel várias oportunidades para descobrir que murmuradores eles eram. A murmuração é um pecado oportunista: surge em nossos corações diante da decepção. Para Israel, o deserto estava cheio de decepções: “Não há água!”. “Não há comida!”. “Não há comida boa!”. “Os cananeus são muito poderosos!”. “Não há água, de novo!” As decepções testam nossos corações: confiaremos em Deus para nos prover tudo o que precisamos, oraremos a Ele com fé? Ou murmuraremos contra Ele, e negaremos Seu amor por nós? É fácil confiar em Deus quando o Mar Vermelho está se abrindo diante de nós; é muito mais difícil quando estamos com sede e não sabemos de onde virá nossa próxima bebida. Às vezes, Deus nos leva ao deserto para revelar a verdade nua e crua sobre quem de fato somos, mesmo como aqueles a quem Deus libertou da escravidão. Ainda somos pessoas muito pecadoras e incrédulas que acham a fé uma luta constante.
Contudo, o deserto não apenas expôs os corações pecaminosos de Israel, também os treinou para ver a provisão do Senhor. Cada uma dessas situações em que Israel murmurou se transformou em uma oportunidade para o Senhor revelar Sua capacidade de atender às suas necessidades. Uma coisa é afirmar que confiamos em Deus para receber o pão de cada dia; outra bem diferente é poder testemunhar que por quarenta anos Ele supriu todas as nossas necessidades no deserto.
Entretanto, a maior provisão do Senhor no deserto veio séculos depois. Jesus Cristo, o novo Israel, foi para o deserto, onde enfrentou exatamente os mesmos testes do Israel do Antigo Testamento: fome, sede e a tentação de aproveitar atalhos que ofereciam acesso ao que Deus havia prometido sem ter que suportar sofrimento (Mt 4:1-11). Ao contrário de Israel do Antigo Testamento, Jesus suportou todos esses testes sem murmurar, com perfeita confiança em Seu Pai. Esta é uma boa notícia para todos nós, pois nossos corações pecaminosos são expostos pelos vários desertos pelos quais o Senhor nos faz passar na vida. Nossa esperança não está em nossos próprios esforços para confiar, acreditar e obedecer mais e reclamar menos, mas na perfeita justiça de Cristo em nosso lugar. Sua fidelidade nos assegura que quando deixarmos este deserto terrestre, nosso lar eterno será com Ele no céu.
Este artigo foi publicado originalmente na TableTalk Magazine.